“Me procure que eu sempre vou estar te esperando.” Era a ultima frase da carta que ele lia pela quarta vez. Ou era a quinta? Ele tinha pouco mais de três horas e não sabia o que fazer. Aquilo tinha sido escrito há 10 anos, talvez ela nem lembrasse mais.
Outra vez deitou na cama, colocou a mão sob o rosto e respirou fundo. Logo olhou para o relógio mais uma vez, seu coração acelerou. O tempo estava passando e ele parado. Isso não podia acontecer. Levantou-se e foi em direção ao guarda-roupa. Estava decidido.
Ficou pronto em 10 minutos. Não estava bem vestido para a ocasião, mas quem ligava para isso? Apanhou as chaves e passou correndo pelos corredores. O carro estava bem estacionado, foi rápido ao tira-lo.
Começou a dirigir pelas ruas se perguntando como seria aquilo. Como entraria? Com quem falaria? O que faria? Olhou para o trânsito congestionado e perguntou o que estava fazendo. Sua mente não encontrava lógica para aquilo, mas seu coração sim:
Ele não dormia direito há dez dias, desde que soube.
Ele largou o emprego e a namorada por causa dela.
Ele leu todas as cartas enviadas por ela.
Ele não parava de pensar nela.
Ele gastou em cerca de quinhentos reais só em bebida para aliviar a dor que sentia ao lembrar dela.
Ele tinha cinqüenta quilômetros e duas horas e meia. Acreditava que daria tempo.
Começou a ouvir músicas antigas e a fumar, para relaxar. Daí vieram as lembranças, e com elas vieram as lágrimas. Uma mão no volante e a outra na janela, segurando o cigarro, sempre olhando pra frente. O tempo mostrava que logo começaria a chover. Entrou na estrada fácil, agora mais rápido. Acelerou mais, e a cada curva as cartas caiam, e mais uma vez as apanhavam. Seu telefone tocava, era sua mãe. Tinha se esquecido que era domingo, dia de almoço em família. Achou melhor não atender.
Acabou chegando com trinta minutos de antecedência.
O casamento aconteceria na casa do noivo, o que dificultaria para entrar. Olhou pelo retrovisor, viu alguns amigos chegando. Pensou até em acompanha-los, mas ainda não sabia se estava pronto para entrar e fazê-la mudar de idéia. Não sabia se era isso mesmo que queria, ou apenas ficar no carro, vendo ela passar logo depois, casada. Colocou a cabeça entre no volante, jogou fora o cigarro, juntou as cartas e saiu do carro.
Começou a pensar em algo quando viu que só entrava com convite. Ele não tinha convites ali.
- Convite, por favor. - disse o homem moreno e alto que estava no portão principal.
- Senhor, eu o esqueci.
- Só entra com convite. - disse o moreno alto, já atendendo outro alguém.
Olhou mais uma vez para ele e ao ver que o moreno era 10 centímetros mais alto que ele, achou melhor não insistir. Até que ele vê uma mulher alta, loira e magra. Ele a reconheceu. Era aquela amiga dela, que ele conversava. Ela lembraria dele?
- Ei, você de vermelho. - gritou ele, uma tentativa fracassada. - Senhor, chame-a, ela confirmará minha entrada. - O homem não deu importância para o que ele dizia.
- Ei, você, olhe aqui. - gritou novamente.
A moça de vestido vinho - e não vermelho - olhou para trás. Viu aquele homem meio barbado e tomou um susto. Pediu licença as pessoas com quem conversava e foi até o portão.
- Não acredito que você está aqui. - disse ela, surpresa.
- Acredite. - disse ele, puxando-a para longe do homem alto moreno. - Preciso que me coloque para dentro.
- Eu não posso fazer isso.
- Por que não? Vamos, por favor. Leve em consideração todas as nossas conversas.
- As conversas que eu me estressei totalmente com você? As conversas em que você era um completo babaca? Agora que não entra mesmo. - disse ela.
- Vamos, por favor. Eu vim de longe, preciso falar com ela. Olhe – então ele mostrou a caixa com as cartas, as fotos e o cd –, eu trouxe isso pra ela ver, vamos, me deixe entrar.
Ela olhou para a caixa e mostrou-se indecisa. Não sabia o que fazer.
@JoannaFarias_
Nenhum comentário:
Postar um comentário