"Essa não é mais uma carta de amor. São pensamentos soltos, traduzidos em palavras pra que você possa entender o que eu também não entendo."
Ele era um quase-roqueiro/quase-emo, ela, totalmente romântica. Ele curtia passar o tempo jogando, ela, escrevendo histórias. Ele tinha medo de se apaixonar e demonstrar seus sentimentos para qualquer pessoa, enquanto ela estava sempre “afim”, “encantada”, “apaixonada” por alguém e gritando para os quatro cantos do mundo quem tanto amava. Ele tinha poucos amigos e isso eles tinham em comum, pois ela já havia se decepcionado várias vezes e temia fazer novas amizades, mantendo apenas algumas, poucas. Além de tudo era era aquariana, o inferno astral dele, pisciano.
Um dia o destino fez com que eles se cruzassem e os dois começaram a conversar. Se deram até bem, encontrando coisas em comum e estranhando as diferenças. Repetiram aquela tarde de julho, conversando mais e mais vezes, sempre escondidos por trás de uma parede de vidro. Com o tempo se tornaram amigos sem ao menos perceberem. Ela contava-lhe suas histórias, mostrava seus escritos, mandava músicas para ele escutar, inclusive uma que mais marcou aquela amizade “You and me – Lifehouse”. Ele, tão fechado como ninguém, começou a se abrir mais com ela, rir com ela e até trocar mensagens em altas horas da noite, causando curiosidade no irmão.
Ele, nesse tempo todo, só passou por um relacionamento, enquanto ela vivenciou vários amores e múltiplas decepções, ouvindo no final do desabafo um “fique assim não menina ¬¬” dele, que já bastava para aliviar toda tristeza. Acho que esse era o segredo para ela gostar tanto de conversar com ele: nunca ouvia um conselho dizendo o que devia fazer.
O tempo passou e a amizade apenas cresceu mais e mais. No sexto mês de amizade, mais precisamente no ano novo, após algumas viradas de copos com bebida alcoólica, ela acabou confessando para um colega que estava apaixonada por um dos seus melhores amigos, e baixinho disse seu nome... Um episódio quase esquecido, pois aquela noite também havia chorado pelo rapaz que mais machucou seu coração e que ela dizia amar. Ao fazer um telefonema no dia seguinte e ouvir isso, ficou quase em estado de choque. Sentou-se na cama e começou a pensar. Não podia. Ela não lembrara de um dia sequer se sentir atraída pelo amigo, por quê então isso agora? Começou a se vigiar, os dois acabaram se tornando mais próximos com o fim do relacionamento dele e aí ela teve a certeza que realmente estava apaixonada. Até pensou em contá-lo isso, ou a um amigo, amiga, mas pensou que poderia ser apenas algo da sua cabeça, então deixou de lado, até mesmo pelo medo daquela amizade mudar.
Passaram-se mais seis meses, e nesse tempo todo ela ainda matinha tudo em segredo, até porque não sofria, pelo contrário. Conheceu outros, gostou, se apegou, mas nenhum deu certo. E continuou amando aquele que tanto a machucava.
Um dia resolveram (na verdade ela resolveu) se encontrarem junto de outros amigos. Para ela, uma das tardes mais especiais de sua vida. Os dois brincaram, conversaram e andaram a maior parte do tempo juntos, ela nunca desgrudando dele. Mas tudo se complicou pela madrugada... No meio de uma conversa, ele acabou dizendo que, para ele, ela era apenas uma amiga. Para um coração apaixonado, ela se sentiu a pior pessoa do mundo e os dois acabaram discutindo por este motivo sem ele saber que, de fato, ela estava apaixonada, pois ela negava. Passaram cerca de duas horas conversando, ela chorando feito criança com fome e ele pedindo desculpas, até que no final se resolveram. O dia que se seguiu foi um dos piores para ela. Ainda chorou ao lembrar da noite anterior e não tinha fome, nem ânimo para nada.
No dia seguinte ela marcou de sair com ele para colocar uma borracha em tudo que havia acontecido. Comprou um cartão para dar-lhe de presente e se animou mais, até que na véspera ele diz que não estava afim de sair e pediu para marcarem pra outro dia. Para quem já tinha passado três dias sem comer direito e chorando quase sempre, se precipitou e acabou pedindo para eles se distanciarem por um tempo, pois não aguentava mais ficar daquele jeito. Ela passou cerca de 1 hora parada no tempo e começou a se alto-criticar, acabando mandando outra mensagem pedindo desculpas e para ele esquecer tudo que ela tinha dito anteriormente. Sem receber resposta, decidiu ir na outra manhã em sua casa e lê uma pequena história que tinha escrito sobre aquela amizade e deixando nela claro seus sentimentos, não para que ele desse alguma resposta, mas sim para que tudo ficasse claro, como ela sempre gostou de deixar. Desistiu ao receber conselho de outros. Deixou quieto. No final do dia, em uma festa, acabou bebendo um pouco e ligando para ele, pedindo novamente desculpas, só conseguindo sossegar quando ele aceitou.
Tudo ficou bem novamente e resolveu não ler mais para ele aquela história, mas fazer com que outras pessoas lessem. Se chegasse até seus olhos, deixaria o tempo cuidar de tudo, se não, aceitaria que o destino realmente escolheu o melhor para ela.